Atentado terrorista à revista francesa Charlie Hebdo

A presente reflexão é sobre um problema que se integra na abordagem filosófica de conceitos como a liberdade de expressão, a democracia e o terrorismo, mais concretamente como devemos interpretar movimentos de caráter religioso, muitos deles considerados atos de puro fanatismo e terror. Eles existem desde há muito tempo mas atualmente é que lhes foi conferido uma maior importância, pois estes movimentos ou ataques são cada vez mais divulgados pelos meios de comunicação e adquirem, assim uma maior relevância, mostrando às pessoas do que aqueles que foram criados e orientados por princípios morais desenfreados baseados na religião fazem e podem vir a fazer. Acabam, assim por instaurar o medo e o terror provocados pelas atividades alienadas que consideram ser as mais corretas.
Dos momentos marcantes da história, conhecemos o atentado de 11 de Setembro de 2001 às Torres Gémeas levado a cabo pelo principal líder da Al qaeda, Bin Laden que morreu recentemente, mas neste trabalho vou me focar no atentado à revista francesa Charlie Hebdo, em Paris que vitimou doze pessoas inocentes. Foi levado a cabo por terroristas que as assassinaram barbaramente a sangue frio e o seu motivo foi a publicação de caricaturas de Maomé. Este ato foi condenado em todo o mundo como um ato de terrorismo, por possuir um significado profundo sobre as nossas convicções mais firmes: a crença na liberdade de expressão e na própria liberdade enquanto base essencial de uma sociedade democrática. Muitas pessoas deram a sua opinião publicamente: "Atacar uma redação com armas pesadas é o tipo de violência que vemos em Iraque, Somália ou Paquistão", declarou diante da sede da revista Christophe Deloire, secretário-geral da organização internacional de defesa da imprensa Repórteres Sem Fronteiras, que ficou espantado por algo assim ter acontecido na França. Todos responsabilizam o terrorismo e reafirmam a determinação de o combater onde quer que ele se desenvolva.
Este acontecimento recente, como já disse anteriormente, abrange diversos conceitos que estão diretamente relacionados a ele como, por exemplo, a democracia e a liberdade de expressão. A democracia é o governo “do povo, pelo povo”, ou seja, é a forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo. Este regime protege a liberdade, os direitos humanos fundamentais, o direito natural e baseia-se no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias. É uma sociedade aberta e pluralista, que admite a convivência com grupos sociais, políticos e religiosos com ideias e opiniões diferentes e que defende que todos têm o direito à liberdade de expressão. Na democracia a palavra é a principal defesa do povo, mas isso não quer dizer que não exista violência num sistema democrático. Pelo contrário, ela existe e de duas formas: uma delas é a manipulação, em que através do uso da retórica e da palavra se tentam impor ideais e crenças, manipulando assim as pessoas; a outra forma é a tão usual e banal violência física que impõe aos outros o modelo, em que certas pessoas acreditam, através da força, como aconteceu neste caso, onde o terrorismo em nome de Deus apenas revelou o puro e mero fanatismo religioso.
Na primeira forma temos o exemplo do Partido Nazi, que se deparava com a necessidade de mudar as mentalidades do povo alemão, de forma a conseguir condições que assegurassem a governação no país conforme uma nova ideologia, a ideologia nazi. Era necessário levar o povo a mudar de comportamento. Para tal, o Ministério da Propaganda Nazi foi criado após a eleição democrática do Partido Nazi a fim de converter o povo alemão à nova ideologia, o que acabou por fazer através da manipulação. Um exemplo para a segunda forma, como já referi anteriormente, é o caso que estou a estudar, do atentado à revista francesa Charlie Hebdo. De um certo modo, esses fanáticos religiosos tentaram impor um novo “Índex” (lista de proibições) no mundo, mas na minha opinião não existe qualquer erro em publicar caricaturas de Maomé, visto que não se desrespeitou nenhuma religião nem nenhum povo. Em certos casos devemos considerar que existem limites para usar e abusar da liberdade de expressão, nomeadamente se ridicularizarmos alguma cultura ou religião, embora neste caso, pelo menos eu, acredito vivamente que a intenção não tenha sido essa. Trata-se de uma revista que se dedica a estes desenhos e que tem como principal objetivo satirizar assuntos relacionados com a atualidade, para provocar assim o riso. Um exemplo parecido com este atentado à Charlie Hebdo foi a publicação, em 2005, de uma caricatura que representa o profeta Maomé a usar um turbante com uma bomba, num jornal da Dinamarca. Milhares de muçulmanos em todo o mundo protestaram nas ruas, nalguns casos violentamente, pois consideraram que o cartoon colocava em causa a honra do profeta. Penso que nos dois casos não se abusou da  liberdade de expressão, porque ambas as caricaturas retratam realidades, ou seja, o jornalista fez um uso legítimo da liberdade de expressão que lhe foi concedida. Analisando agora o ponto de vista em que este atentado se insere no terrorismo, podemos constatar que este exemplo não foi uma exceção. Podemos considerar que o caso comentado aqui neste trabalho se insere no fanatismo religioso. O fanatismo da religião sempre foi um dos principais motivos para a morte de milhões de pessoas durante toda a história da humanidade. Muitas pessoas não percebem que para uma boa convivência não precisamos de acreditar e aceitar todos a mesma doutrina. No meu parecer, o intercâmbio entre culturas e crenças é o que faz uma sociedade evoluir e ser dinâmica. No entanto, ao longo dos anos muitas organizações religiosas tentaram impor o contrário, criando doutrinas dogmáticas. Este infortúnio tal como todos os outros teve as suas consequências negativas como, por exemplo, a nível psicológico e físico: causou o terror e a sensação de insegurança, levou a prejuízos, à destruição e à morte de doze pessoas inocentes, que foram assassinadas cruelmente a sangue frio. Isto só acabou por nos mostrar mais uma vez que o terrorismo é uma atividade permanente às nossas vidas e liberdades e que, se continuar a existir, muitas pessoas desenvolverão uma certa xenofobia pela etnia ou nacionalidade dos terroristas, neste caso pelos muçulmanos. Tal facto não é nada benéfico, pois só acabamos por desenvolver uma sociedade cada vez mais retrógrada, exatamente o contrário daquilo que deveria de acontecer. Assim, todos têm numa democracia o direito de divulgar e exprimir o seu pensamento, seja pela palavra, pela imagem como neste caso, ou por outro meio qualquer. É nisto que consiste a sociedade democrática e a liberdade de expressão, é um direito que todos possuímos e que se traduz pelo facto de podermos dar a nossa opinião, a não ser que fosse um apelo à violência, um apelo público à rebelião armada ou à colocação de bombas nos edifícios públicos, todos temos o direito de exprimir aquilo que pensamos, mesmo que às vezes não seja o mais correto.
Por fim, conclui que na minha opinião este foi um dos muitos casos não justificáveis, porque não atropelámos o respeito e a tolerância devida a todos os povos e religiões. Defendo a ideia de que devemos difundir práticas de igualdade e justiça e que não existe qualquer mal em ser amigo de muçulmanos. Pois, desta forma, através deste atos como o aqui exemplificado, os terroristas não acabam por representar nem uma religião nem um povo. O terrorismo é uma palavra que pode abranger muita coisa, ou seja tem um significado muito subjectivo, pois cada indivíduo tem a sua noção de terrorismo e este pode ser praticado por qualquer etnia ou nacionalidade. Creio que o terrorismo nunca acabará enquanto continuar a existir desigualdade, guerras e intolerância. Mas o mais importante é que não nos devemos deixar intimidar, mas sim continuar a dar as nossas opiniões e fortalecer a liberdade de expressão, uma das maiores conquistas da humanidade e um dos mais importante direitos humanos universais. Vou realçar aqui que o problema não está na religião, mas sim nas pessoas que a praticam. E também devemos ter em conta que a maioria dos fanáticos religiosos só o são, porque cresceram num ambiente regido por esses valores, os quais afirmam que dependendo das ocasiões podemos e devemos agir e se for o caso, até morrer em nome de Deus. Mediante toda a reflexão que este trabalho exigiu, julgo ser através do confronto de ideias opostas que as pessoas podem aprender, corrigir os seus erros e alterar ou melhorar as ideias que defendem. Só assim as sociedades poderão evoluir, principalmente política e socialmente.